
Já falamos aqui no Universo Transpessoal sobre as quatro funções do conhecimento, onde a razão é somente um dos potenciais humanos. Existem outras três funções do ser humano igualmente importantes como forma de adquirir conhecimento e experienciar o mundo.
Assim, o autor do best-seller A simples beleza do inesperado, vencedor do Jabuti, Marcelo Gleiser, que é físico, astrônomo e professor no Darthmouth College (EUA), ousa trazer no seu mais recente livro publicado, O Caldeirão Azul: O Universo, O Homem e Seu Espírito, a complexidade e as incertezas da visão de mundo científica.
Gleiser, que é também Autor Convidado do Universo Transpessoal, por meio da sua habilidade com as palavras, desconstrói a ideia de que a ciência é capaz de produzir uma visão inteira, definitiva e imutável da realidade.
Olha que maravilhoso o que ele escreve no prólogo do livro:
“o tema que conecta todos os meus escritos é simples: vejo a ciência como produto da nossa capacidade de nos maravilhar com o mundo a cada vez que nos engajamos com o mistério da criação. Na sua essência, encontramos o mesmo ímpeto que move o espírito religioso”.
Uma das coisas que admiro é que Marcelo Gleiser celebra tanto a precisão matemática do método científico quanto suas limitações filosóficas, práticas e éticas. Especialmente nas questões existenciais da humanidade e do Universo, e isso, pra mim, o diferencia e o torna um cientista completo.
Provavelmente, essa visão integral ajudou o físico brasileiro a ganhar o Prêmio Templeton deste ano, considerado o Nobel da espiritualidade, e que se dedica a promover o diálogo entre ciência e espiritualidade.
As partes do livro que mais chamam a atenção são aqueles nos quais Gleiser contesta visões que se tornaram, ao menos para algumas pessoas, dogmas não oficiais da ciência.
Marcelo questiona se a busca pela simplicidade matemática que guiou muitos físicos até hoje não poderia ser, lá no fundo, uma vaidade humana. Uma tentativa de impor ao Universo algo que só existe como estrutura mental do Homo sapiens.
É possível que o Cosmos não seja tão simétrico e ordenado como imaginamos ou, como sugere o físico, talvez a tensão entre simetria e desordem é que seja a responsável por tornar a realidade tão especial. Maravilhoso, não é?
Esta mesma pretensão humana poderia estar por trás da crença “científica” na inexistência do livre-arbítrio ou no ideal de um dia alcançarmos a imortalidade.
Marcelo Gleiser traz um pouco do seu ceticismo e questiona essas perspectivas, que aparentemente mostram uma luta entre a impotência e desejo de onipotência do ser humano. E acredita que ainda estamos distantes de compreender a natureza da mente e da consciência humana. Para ele, faz mais sentido celebrar o mistério e o milagre improvável da consciência humana como a conhecemos.
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